Um estudo recente realizado pelo Instituto Akatu e Instituto DataRaça, apresentado durante o Fórum Brasil Diverso, traça um retrato da percepção, avaliação e interação da população negra no Brasil com produtos, serviços e marcas. Intitulada “O Consumo Invisível da Maioria: percepções, gatilhos e barreiras de consumo da população negra no Brasil”, a pesquisa aponta que a diversidade e a representatividade são fatores cruciais que impulsionam a credibilidade das marcas e podem oferecer uma vantagem competitiva sustentável.

A pesquisa ouviu 1 mil pessoas negras em todas as regiões do país e revela que o consumidor negro está mais criterioso e consciente do seu poder de influência no mercado.

Poder de influência e engajamento do consumidor negro

O levantamento destaca o engajamento do consumidor negro com marcas que demonstram respeito e inclusão:

  • 37,4% dos entrevistados compram ou indicam marcas que respeitam a população negra.
  • 24,6% criticam ou deixam de consumir empresas percebidas como racistas.

Esse índice de engajamento é ainda mais acentuado em grupos específicos, como as mulheres, onde a taxa de quem percebe discriminação, mas já premiou marcas inclusivas, atinge 42,6%, e na geração Z, que registra 45,5%.

Avaliação de setores e oportunidades de melhoria

A pesquisa avaliou a percepção de inclusão em diferentes setores do mercado. Os segmentos mais bem avaliados, com aprovação superior a 70%, são:

  • E-commerce
  • Higiene e beleza
  • Moda
  • Bancos

Por outro lado, os setores de bebidas, medicamentos e o alimentício são os que menos dialogam com a diversidade racial, ficando abaixo da média geral de aprovação.

Para os segmentos que dependem de atendimento presencial, como varejo físico, shoppings e supermercados, o estudo indica grandes oportunidades de evolução. Estas podem ser alcançadas por meio de investimentos em treinamentos antirracistas, protocolos de acolhimento eficazes e métricas de experiência do cliente (CX) que incorporem a inclusão.

A importância da representatividade autêntica

A presença de pessoas negras em campanhas publicitárias é um fator determinante para a percepção de valor:

  • Para 15% dos entrevistados, este é o principal motivo de avaliação positiva.

Os erros mais citados pelas marcas são o uso superficial da cultura negra (citado por até 18%) e a ausência de campanhas sobre igualdade racial (15%).

A representatividade, contudo, precisa ir além da presença simbólica em peças de comunicação. A ausência de profissionais negros em cargos de liderança ou como porta-vozes reduz a percepção de autenticidade para 69% dos participantes.

A percepção de exclusão e a preferência por autenticidade são expressas em dois indicadores:

  • O Índice de Barreiras à Inclusão Racial no Consumo (IBIRC) atingiu 59,5 pontos, indicando um panorama significativo de exclusão.
  • O Índice de Etnocentrismo Racial no Consumo (IERC), com 36,5 pontos, aponta para a abertura e preferência por marcas autênticas (a escala de ambos os índices varia de 0 a 100).

O potencial econômico da população negra

A população negra demonstra um potencial de consumo alto e estratégico, movimentando cerca de R$ 1,9 trilhão por ano.

Entre os respondentes das classes A e B (28% do total de entrevistados), a confiança se divide entre empresas multinacionais (26,1%) e empresas nacionais (24,7%). Além disso, quase 40% desse grupo está disposto a pagar mais por produtos e serviços que demonstrem respeito, autenticidade e representatividade.

Confiança e fontes de informação

O estudo também avalia a confiança em diferentes instituições e fontes de informação:

  • Empresas são consideradas as mais confiáveis para 85,3% dos consumidores negros.
  • Governos têm a confiança de mais de 68%.

No que diz respeito às fontes de informação, as ONGs e instituições religiosas aparecem com a maior credibilidade, com mais de 66% das menções. Os canais mais utilizados para se informar são:

  • Redes sociais (62%)
  • Família (56%)
  • YouTube (53%)

A influência de agentes sociais também é notável na decisão de compra. 73% das mulheres negras e 54% dos jovens de até 34 anos confiam em conteúdos produzidos por influenciadores e movimentos sociais.

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