
Ainda antes mesmo de o 5G estar amplamente implantado, o Brasil já se vê atrás na corrida pela adoção da próxima geração de internet móvel, o 6G — uma tecnologia que promete revolucionar a conectividade global. Embora o mundo avance em direção a essa inovação, o país encontra obstáculos significativos em múltiplas frentes que devem ser superados antes de poder acompanhar esse movimento.
No Brasil, o 5G ainda não chegou a toda parte. Enquanto em países como Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul e membros da União Europeia os testes com o 6G já avançam, o foco no país ainda está em expandir a quinta geração de redes para todo o território, o que deve levar vários anos. Esse atraso adia inevitavelmente o desenvolvimento e a adoção do 6G.
Além disso, o processo regulatório no Brasil ainda está em fase inicial. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) abriu consultas públicas para estabelecer padrões técnicos essenciais à futura rede, como a faixa de frequência entre 5.925 MHz e 7.125 MHz. Ainda assim, essas medidas são apenas o pontapé inicial. Também há discussões sobre a divisão da faixa de 6 GHz — parte muito disputada entre redes móveis e Wi-Fi —, o que pode gerar impactos em serviços como redes de satélite.
No lado da pesquisa e da própria produção tecnológica, o Brasil caminha de forma cautelosa, mas consistente. O projeto “Brasil 6G”, liderado por instituições como o Inatel, CPQD, universidades federais e a RNP, já está em sua segunda e terceira fase. Sua finalidade é criar um ecossistema competitivo para pesquisas, protótipos, mapeamento de casos de uso e capacitação de engenheiros e cientistas.
Há ainda parcerias internacionais que dão fôlego a esses esforços. O CPQD, por exemplo, recebeu aporte de US$ 1,7 milhão dos Estados Unidos para adoção das tecnologias Open RAN, consideradas estruturantes para o 6G e para a interoperabilidade futura do sistema.
Olhando para os ganhos potenciais, o 6G promete impactar decisivamente setores como indústria, agronegócio e saúde. O agronegócio brasileiro, por exemplo, pode se beneficiar imensamente da agricultura de precisão, com sensores conectados em tempo real para monitorar solos, clima, máquinas e plantio, o que aumentaria a produtividade e reduziria desigualdades regionais.
Mesmo com potencial científico e parcerias robustas, especialistas alertam que o país ainda precisa enfrentar gargalos estruturais. A cobertura atual do 5G é limitada, muitos municípios resistem à instalação de antenas e boa parte das áreas rurais ainda carece até de conectividade básica.
